Ab Lucem »

Lost Stars – Adam Levine, filme ‘Begin Again’

February 1, 2015 – 3:42 am |

Alguns anos separam meu último post neste que um dia chamei de ab lucem. Recebi e-mails solicitando novos textos, reclamações, perguntas do ‘porque parei’. O fato é que não andava muito inspirado a escrever. Bem, …

Read the full story »
Ab Lucem
Fotografia
Opinião
Nao Verbais
Cinema
Home » Ab Lucem, Musica

Caruso – Lucio Dalla(Te voglio bene assai)

Submitted by on July 11, 2010 – 10:11 pmNo Comment

Pode perguntar a qualquer entendido em opera qual é o maior interprete ‘della lírica’ de todos os tempos. Caruso é a unanimidade. Todos os grandes são unânimes ao apontar o grande italiano de Nápoles como o maior expoente da música erudita que jamais se teve conhecimento (ao menos dos cuja voz se tem um registro).

Caruso foi imitado, copiado, idolatrado. Até mesmo o grande Pavarotti tentou atingir o seu nível de destreza, técnica e complexidade ao interpretar os clássicos italianos. Virou uma lenda na Itália e em especial para músicos dos mais diferentes tipos. Lucio Dalla foi um destes que sofre inspiração da forte emoção que Caruso punha em suas interpretações.

Fazendo uso de lindas metáforas e uma bela poesia, Dalla escreveu sua homenagem ao grande tenor:. Chamou-sa de ‘Caruso’. Desde 1986 quando foi composta, ela sofreu interpretações das mais diversas, incluindo uma do próprio Pavarotti. Tenho especial predileção para uma de Lara Fabian, mas deixarei a cargo de cada um a análise de qual prefere.

Sem mais delonga, de que trata a música?

Conta a história que Dalla se inspirou nos últimos dias de Caruso em seu leito de morte em Nápoles. Ele usou a metáfora do belo Golfo de Sorrento para expressar o sentimento, a música, colocar cores e um drama na poesia.

Caruso viveu uma série de paixões difíceis durante a sua vida. Envolveu-se com diversas mulheres da alta sociedade italiana, muitas casadas. Casou-se com uma, teve descendentes e foi depois trocado por seu próprio motorista. Depois de um período de recuperação, Caruso se envolve e casa de novo com uma mulher 20 anos mais nova. Dizem, entretanto, que não a amava de verdade. Segundo palavras do próprio Caruso, casou-se com ela por querer ter ao seu lado alguém que fosse de fato sua. Morreu em seus braços, com uma filha pequena.

A bela música começa com a incorporação da linda paisagem de um golfo – o de Sorrento.

Dois amantes despedindo-se. O vento forte inebriando e incorporando-se ao clima de paixão e tristeza. Um misto de  alegria, belo, tristeza… Um homem que canta a sua própria despedida, canta com a sua própria música e se ‘afoga’ com seu próprio choro.


Quer-lhe tanto, mas tanto… Quer-lhe tanto que sente como se houvesse uma corrente, um elo entre os dois que chega a queimar o sangue que lhe corre nas veias.

É quando o poeta se volta para o meio. O mar, o belo mar… Vê uma luz no mar e se lembra das suas noites na ‘América’, mas nada mais era do que o reflexo da espuma de um barco no horizonte. E a música se faz presente, sente a dor de sua própria música que tira do piano. A lua compõe o cenário quando aparece por detrás das nuvens. Que morrer mais doce, mais terno. Que contraposição com o salgado ar fresco do mar.

Aqui vale um adendo. Foi nos EUA que Caruso conseguiu chegar ao estrelato. Por diversos problemas que em sua Itália natal, ele precisou cruzar o Atlântico para atingir o sucesso. Voltou à Europa já como um ídolo. Explica-se ai a ‘noites de sua América’.

Segue a música e os olhos verdes de sua amada se misturam com o verde do mar de Sorrento. O salgado daquele mar, com o salgado da lágrima de seus belos olhos. A força da ‘lírica’ (ópera), aonde cada drama é na verdade uma mentira, uma encenação. Com a maquilagem, e algo de mímica, pode-se inventar a um outro. Mas naquele momento único da despedida, estes dois olhos que se cruzam fazem tudo ter mais sentido. Fazem um esquecer o passado, as magoes, as diferenças. Tudo fica menor. Dois passam a ser um, e a despedida se segue…

Alguns dizem ser uma associação das encenações da ópera, imbuídas de tremendo sentimento chegando a parecer real, com o final de vida de Caruso. Um amor encenado, aquele que o tenor buscou para acabar sua vida. Uma companhia que buscava, mas não necessariamente a pessoa a quem amava. Talvez não a morte física, mas aquela metafórica. Uma morte de princípios. Talvez o próprio Caruso quisesse se matar e renascer outro melhor, mais amável e tentar ser mais como naqueles seus ‘dramas’.

Ou talvez não, e realmente seja uma leitura dos últimos dias de Caruso. Ao lado da bela Dorothy, que ao seu lado esteve, deu-lhe uma filha. Talvez seja o poeta querendo dizer que naqueles seus últimos momentos o tenor viu nos olhos de sua senhora a pureza do sentimento, e finalmente conseguiu entender aquele drama, paixão, sentimento profundo que tanto representou. Entendeu em seus últimos momentos ‘il dollore nella musica’.

Qual a sua interpretação?

Acrescento em vídeo três versões. Uma com Lara Fabian (a minha preferida), outra com Pavarotti e uma terceira em espanhol com Lucio Dalla e Ana Belén. Um pouco para todos os gostos.

UA-2800362-11