Mitos da Linguagem Corporal
Novo texto: A Psicologia por detras da linguagem corporal em: http://leoteles.com/?p=596
Originalmente publicado em 25 de outubro de 2009
Texto em inglês de Joe Navarro, livre adaptação para o Brasil de Leonardo Teles
O primeiro mito afirma que justo pelo fato de que hoje entendemos muito sobre a linguagem corporal, faz-se fácil detectar um mentiroso. O segundo mito, e se trata justamente de um enorme mito, afirma que aversão a olhar nos olhos é um sinal claro de alguém que mente ou esconde algo.
A partir dos anos 1970, os chamados expertos em linguagem corporal começaram a se vangloriar de que a sua ciência era a chave para determinar se alguém estava a mentir. Ambos, os agentes da lei e o público em geral aceitaram essas afirmações, e até hoje, com shows como ‘Lie to me’ o mito continua.
Em 1985, Paul Ekman, em conjunto com outros pesquisadores, estudou este mito e descobriu que a maioria de nós não tem mais de 50% de chance de detectar uma mentira. Raros somos aqueles que conseguimos suplantar este percentual. Aqueles sinais que normalmente são associados à mentira (massagem no pescoço, fechar olhos, subida no tom de voz, etc.) na verdade não passam de pacificadores, que nos ajudam a aliviar o stress. Estes comportamentos pacificadores são, na verdade, empregados tanto pelos culpados quando pelos inocentes no alívio do stress em uma entrevista, por exemplo. O trabalho de Ekman foi, por diversas vezes, replicado e se mantém axiomátio: nós, seres humanos, não temos desenvolvida a habilidade para detectar mentiras. Isso também vale para experientes agentes do FBI, como eu.
O perigo deste mito para a sociedade se dá quando agentes da lei mau treinados observam pacificadores ou sinais de desconforto, tal qual descrevo em ‘What Every Body is Saying’, e os tomam como sinais de que se mente ou oculta algo. Normalmente isso acaba por levar tais agentes à segurança de que o interrogado está a mentir ou a técnicas mais agressivas, que por sua vez levam a novos pacificadores e outros sinais de desconforto. Ou seja: forma-se um ciclo vicioso.
Hoje já dispomos de informação de DNA o suficiente para nos confirmar: pessoas sob interrogatório policial irão assinar confissões apenas para acabar com o stress do processo, hajam cometido o crime ou não. Na maioria das absolvições por DNA, os agentes de polícia interrogavam, implacavelmente, os suspeitos por horas a fio, o que acabava por contribuir com o aumento do stress e aumento da produção límbica central. Desnecessário dizer que isso tudo acabava por reforçar, na cabeça destes oficiais, a falsa impressão de que se tratavam de sinais de dissimulação.
O caso dos ‘corredores do Central Park’ é um exemplo do que acontece quando a polícia confunde não-verbais de desconfortou ou stress por sinais de dissimulação e acabam por trabalhar na obtenção de uma [falsa] confissão. Neste caso, cinco garotos ficaram presos por treze anos. Foram posteriormente liberados quando confirmado – através de comprovação de DNA e da obtenção de uma confissão verdadeira – que não haviam cometido o crime.
Há outro ponto que devemos levar em consideração quando pensamos nisso, é o fato de que jurados, normalmente crentes na fiabilidade de tais mitos, comumente os associam (toque e massagem no pescoço, toque no rosto, movimentos faciais) à dissimulação. Ouvi jurados, após o julgamento, comentando haverem visto diversos pacificadores e os terem associado com dissimulação. Sempre me perguntei quantas pessoas não terão sido presas (ou pior, executadas) na nossa história simplesmente porque seus corpos diziam: ‘Estou nervoso, estou estressado, estou muito nervoso’. Infelizmente muitos jurados e juízes ao redor do mundo tendem a vê-los como sinais de dissimulação, mentira.
O segundo mito dos não-verbais que ainda impera nos dias de hoje é com relação ao chamado ‘olho no olho’. Durante entrevistas, ou mesmo em uma simples conversa, quando a pessoa tende a evitar olhar nos olhos do interlocutor, tende-se a, erroneamente, associar isso a uma possível dissimulação, ocultação de mentira. Não poderia estar mais longe da verdade.
O grande pesquisador Aldert Vrij descobriu, e outros o confirmaram, que pessoas que habitualmente mentem (e isso inclui aquelas típicas personalidades anti-sociais, histriônicas e maquiavélicas, psicopatas) costumam manter mais fixamente uma olhar direto com o interlocutor. Por quê? Bem, eles simplesmente sabem que procuramos essa característica e querem se assegurar de que acreditamos nas suas mentiras. Uma pessoa que diz a verdade pode ‘vagar’ com seus olhos porque não há razão para convencer, apenas transmitir a verdade.
A aversão ao olhar é algo tanto pessoal quanto cultural. Por exemplo, você pode sentir um grande conforto quando, ao relembrar fatos passados ou alguma experiência de caráter emocional, desviar o olhar das pessoas próximas e passar a olhar para algo distante, ou simplesmente para baixo.
Nossas heranças culturais também possuem um forte peso na balança. Na América Latina, por exemplo, assim como dentre os chamados ‘afro-americanos’, ensina-se que quando castigados, ou sendo repreendidos por alguma autoridade, deve-se evitar olhar nos olhos dessa pessoa. É como se o corpo transmitisse um sinal de humildade.
Este mito de aversão ao olhar persiste, e possui uma forte implicação tanto social quanto legal. No quesito social, costuma-se tomar essas pessoas como facilmente distraídas ou desprovidas de um interesse maior naquele assunto. No plano legal, já ouvi oficiais de polícia dizerem a ‘afro-americanos’ ‘Olhe para mim’, quando na verdade o jovem estava nada mais sendo humilde e mostrando arrependimento.
Essa falta de compreensão e ignorância com relação ao que realmente o corpo nos transmite pode ter pequenas implicações sociais, mas ao mesmo tempo pode se transformar em situações altamente perigosas, aonde pessoas acabam por ser acusadas de algo que não fizeram simplesmente por evitarem olhar diretamente nos olhos do interlocutor.
Joe Navarro pode ser encontrado no Twitter ( @navarrotells) ou através do web site de sua empresa de consultoria internacional Joe Navarro Forensics.
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[…] também certificar-se de que seus referenciais são sólidos, e não baseados em anedotas ou falsos mitos (vide artigo […]