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February 1, 2015 – 3:42 am |

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A psicologia por detrás da linguagem corporal

Submitted by on July 25, 2011 – 2:40 pmOne Comment

Originalmente publicado em 29 de novembro de 2009

Texto em inglês original de Joe Navarro, adaptação para o Brasil de Leonardo Teles

Entenda melhor a motivação para essa série em: http://leoteles.com/?p=440

Há milhões de anos, nossos ancestrais primitivos perambulavam a terra em um cenário bastante mais perigoso que o de hoje. Ainda não haviam desenvolvido a comunicação verbal e necessitavam, portanto, encontrar meios de expressar com precisão as suas inquietudes, necessidades e desejos.

Surpreendentemente, conseguiram atingir este objetivo desenvolvendo um tipo de comunicação não-verbal, mais especificamente a linguagem corporal. Foi utilizando-se de ferramentas como essências (feromonios desprendidos de glândulas que ainda possuímos), mudanças fisiológicas (rosto corado, por exemplo), gestos (um apontar), reações faciais (olhar inquisitivo), símbolos (desenhos em cavernas), marcações pessoais (tatuagens) e mesmo variações vocais que eles conseguiram sobreviver e se adaptar ao meio (GIVENS, 1998-2005).

Essas características primitivas ainda são tão fortes em nós, fazem parte de nosso DNA e paleocircuits dentro de nossos cérebros, que até hoje nos comunicamos muito mais de forma não-verbal do que verbal.

Nossos membros, rosto, olhos e até mesmo coração estão todo o tempo sendo controlados por nosso cérebro. Nenhuma ação se realiza sem o uso do cérebro, sendo que quando falamos da comunicação não-verbal, falamos da interação deste (o cérebro) com o corpo. Pelo fato de a linguagem corporal estar intimamente interligada à nossa psique (aquilo que ‘está dentro’ do cérebro), podemos analisar os não-verbais para decifrar o que de fato se passa dentro de nossas cabeças. São essencialmente estes sinais (mais notadamente aqueles de conforto, desconforto, emoções e intenções) que trato em meu livro “What Every Body is Saying”.

Os não-verbais e o sistema límbico primitivo postos em prova: os recém nascidos

Por todo o dito anteriormente, fica notório de que ao explorarmos as comunicações não-verbais, devemos fazê-lo partindo da premissa de que todo este tipo de comunicação é governada pelo cérebro. Devemos estudar-lo como um órgão complexo no que tange à sua fisiologia, emocional, área cognitiva, espiritual e intra-psychically. Ao estudarmos a psicologia por detrás da linguagem não-verbal, ajuda-nos observar os recém-nascidos e suas necessidades imediatas.

As crianças chegam a este ‘estranho mundo’ tremendo de frio e chorosas. Sua mãe, entendendo a necessidade imediata do bebê, protege-o com roupas quentes e confortáveis. O recém-nascido fica, portanto, imediatamente satisfeito: sua primeira comunicação não-verbal foi realizada com sucesso. A partir dessa necessidade inicial de calor, abrimos uma ‘janela’ a partir da qual serão realizadas todas as futuras formas de comunicação e interação entre corpo e cérebro, cada uma elegantemente coreografada de forma a criar um repertório que garantirá a nossa sobrevivência através de uma comunicação eficaz. (Ratey, 2001, 181; Knapp & Hall, 1997, 51).

O choro e os tremores são prontamente seguidos pelo ‘chupar dos dedos’, algo que se aprende ainda na barriga da mãe. Trata-se de um gesto introspectivo, uma resposta do cérebro a uma parte sua que busca a paz e tranqüilidade. O cérebro, por questões que ainda desconhecemos, engajará o corpo (neste caso o dedão) na busca à tranqüilidade que necessita. O corpo prontamente responderá de modo a manter a homeostase (Navarro, 2008 pp. 21-49). Essa ação (o chupar de dedos) se repetirá centenas de vezes no futuro de modo a liberar endorfinas indutoras de prazer no cérebro (Panksepp, 1998, 252,272).

Concomitantemente a essa obtenção de prazer, a criança comunica à mãe a sua alegria, a felicidade em que se encontra. Ao crescer, ela desenvolverá outros tipos de comportamentos adaptativos que o ‘pacificarão’ em situações de extremo stress. Alguns serão óbvios (ex. mascar de chicletes, morder lápis, tocar nos lábios), outros não tanto (como ‘brincar’ com o cabelo, afagar o rosto ou massagear o pescoço). Diferentes, outrossim de origem igual: uma necessidade que o corpo faça algo que estimule os nervos (liberando endorfinas) de modo que o cérebro se acalme (Panksepp, 1998, 272).

Progressivamente, o bebe irá procurar o mamilo da mãe. Desajeitadamente ele move a cabeça em direção a suas glândulas mamárias, as quais ele pode ‘sentir’ através de nervos olfativos sensíveis. Quando a amamentação se inicia, com o bebê sugando de forma ritmada o leite, suas pequenas mãos procuram instintivamente massagear o seio de forma a auxiliar no processo de lactação, assim como de modo a gerar conforto e bem-estar tanto para ele quanto para a mãe.

Desta forma se estreita o vínculo entra a mãe e seu filho, aquilo normalmente chamado de proto-socialização (o começo da harmonia social). Trata-se de um processo tanto físico (corpóreo) quanto psicológico (GIVENS, 2005, 121). Ambos acabam por receber enorme recompensa advinda da intimidade criada através da amamentação, já que quando a criança é amamentada a mãe começa a ser ‘recompensada’ por seu esforço: o leite é liberado, aliviando a pressão formada nas glândulas mamárias e liberando ocitocina que acalmará tanto a mãe, quanto o bebê e mais importante: auxiliará no estreitamento do vínculo maternal.

Assim sendo, a criança começa a comunicar aquilo que lhe dá prazer no conforto que sente ao estar com sua mãe. Esta, ao mesmo tempo, observa e tenta decodificar cada nuance do comportamento de seu filho. Este tempo juntos os auxiliará a melhor entender um ao outro e a criar um modo de comunicação mais eficaz. A mãe logo aprende as diferenças entre os diversos choros (comunicação não verbal) do bebê – fome, frio, descontentamento, doença ou tristeza – algo essencial para a sobrevivência e bem-estar do bebê. O bebe, por sua vez, começa (tão cedo quanto 72 horas de nascido) a observar e imitar as gesticulações faciais de sua mãe, algo bastante útil no desenvolvimento de músculos do rosto e mais ainda ao comunicar desejos, sentimentos e necessidades (Ratey, 2001, 330). A partir de dias, senão horas, do nascimento o bebê começa a processar o meio de comunicação mais eficaz para expressar os seus desejos e sentimentos. Eventualmente ela será capaz de se comunicar de maneira mais complexa e elaborada ao mundo a seu redor.

Ao ponto que ambos, pais e filhos, decodificam e reforçam estes comportamentos iniciais, aprendem a melhor se comunicar entre eles. Eventualmente, a criança desenvolverá respostas às palavras – ou a outras línguas – e mesmo a forma como essas palavras são proferidas (tom de voz, altivez, sentimento, olhos nos olhos, postura) acabam por ter um impacto mais forte do que as palavras em si (Knapp & Hall, 1997, 400-425; Givens, 2005, 85).

Será a partir da ‘calorosa’ intimidade advinda da interação com a sua mãe que a criança desenvolverá ferramentas de socialização com os outros. A criança ‘chega’ ao mundo já equipada para comunicar-se não verbalmente. Ao notar algo que não lhe goste, seu cérebro (subconscientemente) imediatamente contrai as pupilas e gira o corpo na direção oposta (negação ventral (Navarro, 2008, 179).

São todos comportamentos muitos sutis que fazem parte de nosso mecanismo básico de sobrevivência (o sistema límbico central). O cérebro, através do corpo, transmite de maneira muito precisa seus sentimentos negativos e/ou positivos que serão tão pronto reconhecidos por amigos e familiares (Knapp & Hall, 1997, 51). Quando a criança, por exemplo, move o seu torso da mesa de jantar e seus pés se inclinam em direção à saída mais próxima, a mãe prontamente entenderá o seu rechaço à comida e a conseqüente mensagem: não quero comer. São sinais típicos de desconforto que refletem aquilo que se passa dentro do cérebro, sem que se tenha que deferir uma única palavra.

Igualmente, quando o cérebro ‘gosta’ de algo, ele irá compelir a criança a expressar este sentimento. Deste modo, quando a mãe entra no quarto da criança de manhã cedo e observa, verá que os olhos do ‘pequeno’ irão abrir, suas pupilas se dilatarão, os músculos faciais irão relaxar (permitindo um grande sorriso) e a cabeça irá se girar, expondo um vulnerável pescoço (Givens, 2005, 63, 128). Estes sinais de conforto serão de grande utilidade nas décadas por vir, no desenvolvimento e na manutenção de amizades e mesmo em namoros. Facilitarão, assim, a sobrevivência da espécie com mais uma nova geração.

Não deixa de ser maravilhoso que nosso cérebro exija do nosso corpo uma reação aos sentimentos que nele são processados. Raiva, tristeza, medo, surpresa, alegria e desgosto são manifestações universais de ‘não-verbais’, essenciais para que tenhamos nossos desejos atendidos mesmo quando não podemos nos expressar (Ekman 1982, 1975, 2003). A bem da verdade, nossos cérebros são de tal maneira complexos que crianças que nascem surdas e crescem juntas (sem a presença de adultos), desenvolverão sua própria linguagem de modo a comunicar pensamentos mais complexos umas com as outras (Ratey, 2001, 262).

Essa interconexão entre aquilo que se passa dentro de nossas cabeças e a transmissão não-verbal de tais sentimentos não é exclusiva dos humanos. Trata-se de algo comum ao reino animal, um artifício de perpetuação da espécie, algo que ajuda a assegurar a nossa sobrevivência. Nossos cérebros, entretanto, acabam por transmitir muito mais informação do que simplesmente as emoções (supra). Quando nossas emoções estão equilibradas, por exemplo, e o cérebro se mostra ‘saudável’, ele acaba por procurar demonstrar isso através de nossa aparência: aspecto saudável e de felicidade. Caso emoções desestabilizadoras ou doenças se manifestem (imagine um ‘sem teto’ esquizofrênico), nosso corpo – e de todos os animais – acaba refletindo estes problemas por meios de uma postura ‘pobre’, falta de cuidado pessoal, semblante preocupado ou comportamento transviado. Todos estes reflexos não-verbais demonstram a elegante interconexão entre o cérebro e o corpo, em sua linguagem corporal.

 

Desde o nascer até o morrer, nosso corpo criam um importante elo de comunicação com o cérebro. Uma ferramenta no processo de desenvolvimento que procura não apenas a busca de necessidades imediatas, mas também para se comunicar mais eficazmente com o mundo exterior. A despeito de havermos desenvolvido uma complexa e única ferramenta de comunicação com o mundo exterior (a verbal) seguimos, após milhões de anos, comunicando-nos primariamente através da linguagem não-verbal. Dificilmente algo se passa em nossos cérebros que não se reflita em nossa linguagem corporal. Desde emoções, passando por necessidades físicas, gostos ou desgostos, doença ou demonstrações de status, estamos plenamente expressando tudo isso a diário. O estudo cuidadoso dessas respostas nos ajuda a criar um insight sobre aquela dimensão secreta na psicologia dos nossos cérebros.

Para maiores informações, consulte a bibliografia complementar abaixo, o site do autor ( www.jnforensics.com ) para uma bibliografia mais ampla, ou siga-o no Twitter: @navarrotells.

For additional information see the below bibliography, www.jnforensics.com for a more comprehensive bibliography, or follow me on twitter: @navarrotells.

Ekman, Paul. 1982. Emotion in the human face. Cambridge, UK: Cambridge University Press.

Ekman, Paul. 2003. Emotions Revealed: recognizing faces and feelings to improve communication and emotional life.  New York: Times Books.

Ekman, Paul. 1975. Unmasking the Face. New Jersey: Prentice Hall.

Ekman, Paul & Maureen O’Sullivan. 1991. Who can catch a liar? American Psychologist, 46, 913-920.

Givens, David G. 2004. The Nonverbal Dictionary of Gestures, Signs & Body Language Cues. Spokane: Center for Nonverbal Studies (http://members.aol.com/nonverbal2/diction1.htm).

Givens, David. 1998-2005. Love signals: a practical field guide to the body language of courtship. New York: St. Martin’s Press.

Knapp, Mark L. and Judith A. Hall. 1997. Nonverbal communication in human interaction, 3rd. Ed. New York: Harcourt Brace Jovanovich.

Navarro, Joe. 2008. What Every Body Is Saying. New York: Harper Collins.

Panksepp, Jaak. 1998. Affective neuroscience: the foundations of human and animal emotions. New York: Oxford University Press, Inc.

Ratey, John J. 2001. A user’s guide to the brain: perception, attention, and the four theaters of the brain. New York: Pantheon Books.

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